A prática fotográfica

Pensar sobre a fotografia e as suas técnicas pode parecer algo bastante denso, mas há uma maneira simples de contornarmos essa dificuldade. Primeiro, imaginemos uma câmera fotográfica. A seguir, vamos começar a segmentar a máquina fotográfica, considerando três partes fundamentais: o corpo da câmera, o filme (suporte) e as suas objetivas (lentes).

 

O corpo 

É comum associar o corpo da máquina fotográfica ao princípio da câmera obscura. Essa investigação pode partir, por exemplo, dos escritos de Leonardo da Vinci, nos manuscritos do Codex Atlanticus (1478-1519), e pode seguir até os  compêndios de ótica, como os escritos de Al Hazen (1015)

Neste sentido, o corpo da câmera pode atrair uma discussão sobre a relação da fotografia e princípios óticos. É possível ainda tomar outras direções a partir de uma investigação bastante natural com uma pergunta básica: como chegamos ao formato do corpo da câmera?

corpo de uma câmera fotográfica

Em síntese, a câmera fotográfica assume diferentes formatos – pequeno, médio e grande formato – de modo a lidar com as demandas específicas de cada período de seu desenvolvimento. Por exemplo, a portabilidade da câmera foi uma questão importante na passagem para o século XX e vemos despontar as câmeras de pequeno formato. Nessa direção foram os avanços de Oskar Barnack, em seu trabalho nos anos 1910 para a Casa Leitz, no desenvolvimento da câmera Leica. Além disso, houve a preocupação de rolinhos fotográficos para tais câmeras, a fim de tornar mais prático o gesto de fotografar. Algo que já era alvo claro de empresas como a própria Kodak nas décadas anteriores.

Embora essa pergunta sobre o formato da câmera seja simples, ela nos traz um profundo mergulho na história da imagem. Em um flash, passamos rapidamente pelas antigas práticas de silhuetas, das lanternas mágicas, das câmeras claras até finalmente alcançarmos o formato adquirido por essa pequena caixa escura. De um lado, o furo estenopeico e, de outro, a superfície sensível.

 

O filme 

A matéria mais fundamental para a fotografia é a luz. Portanto, foi primordial pensar o registro em uma superfície sensível a ela. A fotografia passou por diversas alternativas que precederam o filme fotográfico. Em sua herança mais remota temos as práticas das heliografias de Joseph Niépce, passando pelas estratégias de reprodução do caleótipo de Henry Fox Talbot, as chapas dos daguerreótipos de Louis Daguerre, além das infindáveis experimentações – em suportes -, como o uso do colódio, ou albumina, – ou ainda em outras técnicas, como as desenvolvidas pela fotógrafa Anna Atkins em suas impressões em cianótipo.

Para além dessas experimentações e técnicas mencionadas, muito ainda foi feito no sentido de desenvolver a noção do que entendemos como filme fotográfico. Não bastava ter uma superfície sensível à luz. Ela precisava ser reproduzível.

Havia ainda o desejo de tornar a câmera fotográfica cada vez mais portátil, deixando os aparatos de fotógrafos e fotógrafas cada vez mais leves. Neste sentido, inovações como as de Oscar Barnack também assumiram grande relevância. No período entre guerras, o trabalho de Barnack na Casa Leitz foi efetivo para o desenvolvimento de novas perspectivas sobre o aparelho fotográfico, considerando desde o corpo da câmera até os rolinhos de filme.

Em paralelo a essas investigações, havia uma intensa corrida contra o tempo marcado por um conjunto infindável de tentativas em tornar o filme fotográfico cada vez mais sensível à luz. A sensibilidade do filme era primordial para reduzir o tempo de exposição de objetos e figuras diante da câmera, considerando que, ainda no período dos estúdios retratistas de meados do século XIX, o tempo de exposição para os registros era relativamente extenso e, em casos de pequenas movimentações, registrava borrões em alguns retratos, quase como fantasmas de um outro tempo.

filme fotográfico

O fato é que não precisamos retroceder tanto para refletir sobre a importância da sensibilidade à luz para as câmeras fotográficas. Basta pensarmos nos nossos sensores, que passaram a substituir já a muito tempo o filme fotográfico. Os avanços tecnológicos dos sensores se atentam ainda à sensibilidade à luz. Atualmente, sua relevância é nítida quando, limitados pelo diafragma da câmera, precisamos lidar com ambientes de baixas luzes sem uma quantidade razoável de equipamentos de iluminação.

 

A objetiva

Para além das experiências iniciais com o furo estenopeico, ao pensarmos nas câmeras fotográficas, já houveram substituições naturais pelo uso de lentes biconvexas, que passaram a compor um conjunto ótico que chamamos de ‘objetiva’. Por exemplo, uma ‘lente’ zoom possui, na verdade, um arranjo de lentes em sua composição ótica para proporcionar diferentes distancias focais em uma única objetiva.

Em relação as objetivas, podemos dividi-las em três grandes grupos: grande angulares, normais e teleobjetivas [1]Essas nomenclaturas não esgotam todas as possibilidades, pois temos ainda outros grupos, como as objetivas chamadas zoom, macro e ainda uma vasta gama de objetivas voltadas a efeitos específicos … Continue reading. Essa nomenclatura tem relação com a chamada distância focal, a distância do sensor/filme até o chamado ponto de focagem, e possui uma medida em milímetros. Em poucas palavras, podemos dizer que as objetivas chamadas de normais possuem a distância focal de 50 mm, enquanto as grande angulares têm distância focal menor do 49mm e as teleobjetivas, normalmente, a partir de 70mm.

As distâncias focais são ainda determinantes nos arranjos de composição e de enquadramento, determinando o campo de visão sobre um determinado assunto fotografado. Há outro aspecto muito importante a ser mencionado a propósito das objetivas. As diferentes objetivas mencionadas  – grande angulares, normais e teleobjetivas – possuem efeitos óticos de distorções de perspectiva em um mesmo enquadramento. 

Ou seja, ao enquadrar uma mesma porção de um assunto fotografado, a proporção e a disposição dos planos pode ser levemente ou drasticamente distorcida pela perspectiva. Novamente, as objetivas normais não apresentam distorções. Por outro lado, as objetivas grande angulares tendem a arrastar uma porção de planos para o fundo da imagem, enquanto as teleobjetivas os aproximam. O efeito torna-se ainda mais nítido conforme a milimetragem da objetiva se distancia dos 50mm. 

 

Um último assunto fundamental é a chamada profundidade de campo, que determina a área nitida da imagem em si. Chamamos de baixa profundidade de campo um registro com uma pequena porção da imagem focada e, consequentemente, alta profundidade quando temos uma área maior em foco.

Em linhas gerais, e sem considerarmos outros fatores – como diafragma, distância do objeto ou tamanho do sensor -, quanto menor for a numeração da milimetragem da distância focal, maior será a sua profundidade de campo. Ou seja, uma objetiva grande angular (por exemplo, de 10mm) tem maior profundidade de campo do que uma objetiva normal (com 50mm) ou ainda uma teleobjetiva de, por exemplo, 100mm. 

Nas linhas anteriores fizemos uma breve aproximação à câmera fotográfica e algumas de suas particularidades. Buscamos uma visão mais ampla sobre as técnicas fotográficas a fim de apresentar uma visão geral sobre seus usos e práticas.

Notas

Notas
1 Essas nomenclaturas não esgotam todas as possibilidades, pois temos ainda outros grupos, como as objetivas chamadas zoom, macro e ainda uma vasta gama de objetivas voltadas a efeitos específicos como a tilt-shift ou mesmo as baby lens, entre outras
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